terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ipea indica que 39% da população está insatisfeita com transporte público

 
Transporte público é usado por cerca de 85 milhões de brasileiros

Mais de um terço da população brasileira (39%) considera o transporte público muito ruim ou ruim, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado nesta segunda-feira (24). A pesquisa Sistema de Indicadores de Percepção Social: Mobilidade Urbana entrevistou 2.770 brasileiros em todos os estados e no Distrito Federal.

Clique aqui para ver o estudo do Ipea.

Nacionalmente, 31,3% acham o transporte regular e somente 2,9% consideram muito bom, ao passo que 26,1% o consideram bom - 0,7% não souberam ou não quiseram opinar. A região Sudeste tem o menor percentual de entrevistados que acham o transporte muito bom, 1,8%, ao mesmo tempo em que conta com uma das piores avaliações: 45,9% de reprovação. No Norte há a melhor aprovação, com 7,6% que consideram o transporte público muito bom.

Os meios de locomoção coletivos são utilizados por 44,3% da população. São cerca de 85 milhões de brasileiros, que estão preocupados com a rapidez, o custo e a disponibilidade de mais de uma forma de se deslocar. O uso de carros aparece em segundo lugar, com 23,8%, e o de motocicletas em terceiro, com 12,6%. O percentual de pessoas que se locomovem a pé é de 12,3%, e a bicicleta aparece como última opção, com 7%.

Para o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, o resultado da pesquisa indica uma discrepância de avaliação do transporte público. "As pessoas de menor renda que têm o transporte público como principal deslocamento o valorizam muito mais. Enquanto os de maior renda tendem a valorizar mais o individual, não percebendo o público como uma alternativa de deslocamento".

Crescimento do transporte individual

Ônibus lotados, pouca ou quase nenhuma interligação entre os meios de transporte e o custo elevado resultaram no crescimento da frota de veículos individuais. "Por ter um custo menor que o do automóvel, ela é escolhida e acaba sendo a alternativa para a população de menor renda que opta pelo transporte individual", observa Pochmann.

Em percentuais, também fica evidente a preferência pelo individual. As frotas de automóveis e motocicletas aumentaram, respectivamente, 83,5% e 284,4% de 2000 a 2010. No mesmo período, o número de ônibus cresceu 70,6%. "Pela proporção, para cada ônibus novo colocado em circulação, apareceram 52 automóveis", exemplificou Pochmann.

Um outra consequência do aumento do transporte individual é o crescimento do número de congestionamentos e do tempo de deslocamento das pessoas pelas cidades. As regiões Sul e Sudeste são as que apresentam mais problemas. Na Sul, 21,9% dos entrevistados disseram enfrentar mais de um congestionamento por dia. Já na Sudeste, o percentual foi de 21,6%.

Transporte e escolaridade

O estudo mostra que quanto maior a escolaridade mais insatisfação em relação à qualidade do transporte. Somente 20,1% das pessoas com nível superior completo ou incompleto e com pós-graduação acham o transporte muito bom e bom.

Mais da metade desse público de maior escolaridade, cerca de 52%, opta pelo automóvel como forma de substituição ao transporte público. Em contrapartida, 34,9% dos entrevistados que têm até a quarta série do primeiro grau dividem a mesma opinião. Na parcela da população com menor escolaridade, até a quarta série do primeiro grau, temos 49,9% utilizando o transporte público e 20,7% usando moto como seu principal meio de deslocamento.

Para Pochmann, há espaço para políticas públicas que visem à redução do peso do custo do transporte, o que representaria um ganho de renda para as famílias, principalmente as de baixa renda. "A população mostra-se interessada em usar o transporte público, mas opta pelo transporte individual pela falta de qualidade. No curto prazo, a ênfase no transporte individual pode ser menos onerosa ao poder público. Mas no longo prazo representa um custo elevado, inclusive de qualidade de vida e produtividade", avalia.

O presidente do Ipea defende também a elaboração de uma política nacional que direcione investimentos para metrô, veículo leve sobre trilhos (VLT) e trem.

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