Sidney Rezende | Sidney Rezende | 24/11/2010 19h06
Os ataques violentos no Rio de Janeiro comandados por chefes do tráfico de drogas são uma reação à reocupação dos espaços urbanos, e a devolução destes lugares à sociedade. E, não por acaso, até há pouco tempo, terra de ninguém e ambiente de ação do crime numa das mais importantes cidades do país.O que querem os traficantes? O objetivo deles é forçar um "acordo" com autoridades para tentar uma saída "pacífica" para suas atividades delituosas que contrariam qualquer sociedade civilizada e democrática. No passado, estes "acordos" davam a segurança necessária para o governo fingir que combatia, e o crime e os traficantes fingiam que não estavam desafiando as leis. Balela.
Os traficantes foram desalojados de algumas comunidades após a adoção das UPPs. As tais Unidades Pacificadoras não estão nas comunidades maiores e principais, mas o programa está avançando. E isto não é bom para quem quer vender drogas, ou consumí-las, sem ser importunado.
Outro problema para os barões do pó, maconha e crack: a pressão das milícias que contam com a ajuda voluntariosa e pessoal de policiais. Os milicianos expulsam e se alojam nos seus lugares.
Os traficantes não estão acuados, como já chegou a dizer o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. E muito menos desesperados, como falou hoje o governador Sérgio Cabral. Eles estão armados até os dentes, tem clientes fiéis e estão entocados ao lado de seus paióis. Tem chefe do tráfico que conta com a assessoria de ex-guerrilheiros angolanos e armeiros que deixaram o exército brasileiro.
O que está acontecendo, então? Os traficantes estão antevendo que se não reagirem minimamente organizados terão que sair das favelas onde nasceram. Quem já sacou que a barra continuará pesando, já pulou fora. Muitos já estão nas regiões dos Lagos e serrana e no interior do estado. Não é tão rentável como na capital, mas garante um capital bom. E outros foram para o nordeste do país, região de franca ascensão de consumo de drogas por brasileiros e turistas estrangeiros. Pedofilia, prostituição e drogas, está bom ou quer mais?
Leia abaixo o relato revelador que me chegou antes dos ataques. É de alguém que presenciou a disposição dos traficantes de ir para o enfrentamento. Um leitor, testemunha ocular, me escreveu o que aconteceu no dia 20 de novembro:
"No último sábado, dia 20, estava no baile funk da Rocinha, na quadra da rua 1, quando o chefe do tráfico de drogas conhecido como 'Nem' chegou com mais de 200 homens armados de fuzis e granadas. Logo notei algo estranho, pois ele nunca entrava no baile com tantos seguranças. Minutos depois o seu braço direito o 'Neto', pegou um microfone e começou a falar: 'agora é oficial. Não existe mais facção, agora é o trafico contra polícia. Não tem essa de UPP nem operação, não vai ter olimpíadas P... nenhuma quem manda no Rio de Janeiro somos nós, vai tomar no C... Sérgio Cabral e Beltrame, agora é união Rocinha e Complexo do alemão'.
Isso mesmo Sidney, inclusive notei que havia outros homens estranhos junto ao 'Nem', ouvi rumores de que se tratavam de 'Pezão', 'Mister M' entre outros."
De agora para diante temos que ficar atentos com boatos e a multiplicação do medo. Sentimento aliado do terrorismo. Até centros populares se sentem desconfortáveis. Hoje mesmo a direção da escola de samba Portela sintetizou no seu comunicado para os sambistas este sentimento de pavor:
"Não haverá ensaio hoje.
Amigo componente,
Em virtude da onda de violência que se espalha pela Cidade, visando o seu bem estar e a sua segurança, evitando desta forma o seu descolamento até Madureira, estamos cancelando o ensaio da comunidade hoje, em nossa quadra.
Ficamos na torcida para que essa situação se resolva o mais breve possível.
Abraço a todos."
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