sábado, 30 de julho de 2011

SISTEMA FINANCEIRO - Professor da UFRJ critica cartel e defende regulamentação do sistema financeiro

O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Fernando Cardim, criticou o atual modelo do sistema financeiro nacional, baseado em conglomerados e numa concorrência oligopolista. Ele defendeu a regulação do setor e a democratização do crédito. “A crise mundial mostrou os males do oligopólio formado pelo setor financeiro. Os bancos priorizam o crédito pessoal consignado, a juros altíssimos e sem qualquer risco para as instituições financeiras em detrimento do crédito para o setor produtivo e para o desenvolvimento econômico e social do país. Mesmo em momentos de turbulências e crises mundiais, os bancos recebem o socorro do Banco Central”, disse. Ele lembra que não há concorrência no setor bancário e defendeu reformas profundas e maior competitividade. “O contexto obriga os bancários a ter nesta campanha salarial não apenas uma preocupação corporativa, mas enquanto cidadãos” acrescenta.

No Brasil, os dez maiores bancos detêm cerca de 66% dos ativos do sistema financeiro nacional.

Papel dos bancos públicos

Fernando Cardim destacou a importância do debate sobre o papel social dos bancos públicos. “Vimos durante a crise internacional, chamada pelo presidente Lula de marolinha, a importância da ampliação do crédito feita pelos bancos públicos. Mas esta ação tem sido feita apenas em momentos especiais, quando deveria ser uma prática comum dos bancos atenderem as demandas sociais”, ressalta. Ele questionou o aspecto mais mercadológico do Banco do Brasil. “A Caixa Econômica Federal e o BNDES são instrumentos naturais das ações do governo, mas o Banco do Brasil hoje possui acionistas privados e sua responsabilidade social está limitada a regras de mercados que protegem esses acionistas minoritários”, afirma.
Reinvestimentos

O economista apontou como proposta a chamada “securitização” do setor bancário, uma forma
de garantir liquidez dos ativos para que os investidores assumam os riscos de seus investimentos e o crescimento econômico e social não seja comprometido. “Nos EUA, uma lei criada na época do governo Jimmy Carter obriga os bancos a reinvestirem seus ganhos nas mesmas comunidades e regiões onde eles captaram os recursos”, destaca. Ele disse ainda que é necessário a regulação do sistema financeiro para obrigar bancos e investidores a criarem contrapartidas sociais.
Cardim mostrou uma certa reserva em relação a proposta de estatização do setor financeiro. “É preciso saber que estatização é esta. Não adianta o controle estatal se não houver o controle público e social do estado. A regulamentação financeira, inclusive dos bancos públicos, é que é o debate fundamental”, conclui.

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