sábado, 30 de julho de 2011

Campanha Salarial 2011 13ª - Conferência Nacional dos Bancários


Os debates da 13ª Conferência Nacional dos Bancários, realizada nesta sexta-feira (29), em São Paulo, começaram com o tema Igualdade de Oportunidades. Em função de um imprevisto, o jurista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Dalmo de Abreu Dallari não compareceu ao evento, o que levou a organização da Conferência a suspender o painel sobre saúde e condições de trabalho.

O professor de economia da Universidade Federal de São Carlos, doutor pelo Institut de Hautes Estudes de L' Amereque Latine, de Paris, Pedro Chadarevian, apresentou sua teoria econômica da discriminação. Ele disse que seu trabalho acadêmico foca a questão racial, mas disse que há elementos concretos que comprovam a discriminação de gênero. “A discussão de gênero envolve questões de caráter moral, familiar e é um tema mais subjetivo, que permite à psicologia, um estudo mais preciso. Já a discriminação racial no Brasil possui razões históricas, que facilitam a pesquisa no campo econômico”, disse. Ele acrescenta que o racismo no país vai além da d iscriminação individual, mas que o Brasil possui historicamente mecanismos discriminatórios. “A hierarquização no trabalho não é resultado do que os setores conservadores chamam de ‘meritocracia’, mas mecanismos ideológicos que criam barreiras às minorias, na qual são levadas em consideração a raça e o gênero dos indivíduos”, destaca.

Raízes coloniais

Chadarevian cita um exemplo claro da discriminação de gênero. “Hoje há mais mulheres do que homens no ensino superior, mas isto não se traduz em progresso profissional e melhores salários”, afirma. Chadarevian apresentou dados que comprovam a discriminação no mercado de trabalho: Os brancos ganham, na média, duas vezes mais do que os negros e ocupam as funções de mais prestígio. Na base da pirâmide social está a maior parte dos não-brancos, que ocupam trabalhos manuais e de baixa remuneração ou são moradores de rua. “Eles são as maiores vítimas da violência no país”, critica. O especialista acrescenta que estas distorções estão nas raízes coloniais do Brasil, que se caracteriza ainda hoje pela concentração fundiária. “A abolição tardia, a política imigratória que trouxe europeus para setores industriais e a retórica oficial ajudam a explicar o problema”, ressalta. Ele explica que, após a escravidão oficial, houve uma migração seletiva para o mercado de trabalho, na qual os brancos sempre tiveram prioridade.

Avanços e críticas

O economista admite avanços a partir do governo Lula, mas critica o que chama de “ausência da reforma agrária, “estado de bem-estar incompleto” e “programas de ações afirmativas tardias”. Em sua opinião, a presença maior de negros nas classes emergentes tem muito mais haver com o crescimento econômico do que com as ações governamentais afirmativas, como a política de cotas, que ele defende. “Historicamente, em momentos de crise, diminui a presença de negros no mercado de trabalho e nos momentos de expansão econômica é comum que haja uma redução das desigualdades sociais, nas quais os não-brancos são os maiores beneficiados”, disse. Ele criticou ainda a lógica neoliberal que criminaliza os movimentos sociais e destacou a importância das ações sindicais. “Há dados comprovando que nas categorias onde o nível de sindicalização é maior, h á uma redução nas desigualdades sociais e nas diferenças salariais”, conclui.

Nenhum comentário: