sábado, 23 de abril de 2011

Para Frei Betto, sociedade deve resgatar utopia, imaginário e desejo

O escritor e pensador Frei Betto defendeu em palestra na terça-feira (19), em São Paulo, que a sociedade precisa resgatar os mais básicos valores humanos para livrar-se das amarras do atual sistema.

Em uma conferência organizada pela editora Boitempo a respeito de revoluções, Frei Betto pediu que se resgatem o imaginário, o desejo e a utopia, atributos condensados, na visão dele, pelo guerrilheiro argentino Ernesto "Che" Guevara, um dos ícones da Revolução Cubana. Ele entende que o sistema capitalista levou ao sufocamento desses anseios.

O imaginário, pondera o frade dominicano, é uma peça fundamental da existência humana na medida em que leva à fantasia e à criatividade. "A sociedade neoliberal sabe que o imaginário tem grande capacidade de subversão. Já que não pode impedir nossa fantasia, escolhem o que a gente vai sonhar."

Ele pensa que a televisão exerce um papel fundamental na sociedade do entretenimento, sequestrando desde a infância a capacidade de sonhar, impedindo inclusive a contestação das regras atuais, que levam à exclusão de dois terços da população mundial em relação a direitos básicos, como alimentação, saúde e educação.

O autor de "A mosca azul" entende que nas escolas e na recuperação do papel educativo dos pais está outro passo importante, revertendo a formação de consumistas por parte da TV, que acaba também por sufocar a existência de culturas diferentes em prol da supressão da consciência crítica.

Para Frei Betto, vive-se o começo de uma nova era na qual está em definição se o paradigma será o mercado ou a solidariedade. "No momento que estamos vivendo, a força do mercado é assombrosa. É o produto que porto que me agrega valor", afirma o pensador, para quem o fim da repressão ao desejo pode ser fundamental para reverter o caminho, passando a rumar em direção a uma sociedade marcada pela solidariedade.

Ele acrescenta que está em contestação a ideia da era da modernidade de que a razão é capaz de dar resposta a tudo, uma vez que essa razão não foi capaz de resolver os problemas mais básicos. "O sistema capitalista não admite a possibilidade de vivermos igualmente."

A respeito da utopia, Frei Betto acredita que se trata do ponto fundamental a ser resgatado entre os jovens. Ele pondera que a questão das drogas, tão debatida atualmente, não encontrará saída enquanto não se recuperar possibilidade de mudanças. "Só se droga quem está desesperadamente em busca de um sonho", analisa. "Como o sistema sabe que a utopia é altamente subversiva, decide propagar que a história acabou."

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