São Paulo - A esteticista Cleo dos Santos, de Porto Alegre (RS), sempre teve o costume de levar a filha Clarissa, 8 anos, para escolher os cadernos e lápis que iria utilizar durante o ano. Porém, o desejo da filha de optar sempre pelos objetos mais bonitos, sofisticados e - claro - mais caros das lojas, a fez reavaliar a companhia da pequena estudante da 4º série do ensino fundamental. "Eu gosto que ela escolha o que vai usar na escola, mas acaba sempre querendo o caderno mais caro, por ter desenhos e ser mais bonito. Acaba ficando apertado para mim, mas, ao mesmo tempo, não consigo não dar o que ela escolhe, porque acho que isso estimula ela a estudar", diz. A lista dos materiais escolares é extensa, as papelarias e livrarias estão sempre lotadas nesta época do ano e os pais ainda quer economizar ao máximo nas compras. É pensando nesse cenário que a maioria das mães opta por deixar os filhos em casa na hora de bater perna na busca por livros didáticos. Porém, segundo a jornalista Marília Cardoso, co-autora do livro Você sabe lidar com o seu dinheiro? Da infância à velhice, o momento é perfeito para uma boa dose de educação financeira e consumo consciente.
Economia, dinheiro, valores, compra, custo-benefício. Todos estes aspectos que permeiam a vida adulta devem ser inseridos aos poucos no vocabulário das crianças. Mas como tratar de termos tão complicados para o universo infantil? Para Marília, a compra de materiais para a escola é o ambiente perfeito para educação financeira. "Claro que os pais não podem esperar um comportamento exemplar, e muito menos começar a ensinar coisas como economia de uma hora para outra. É importante ir conversando com a criança antes de a levar para a loja. Sempre oriento os pais a primeiro analisar os materiais do ano passado junto com a criança e definir o que pode e o que não pode ser reaproveitado, sempre explicando coisas como preservação e diminuição de gastos", explica.
A jornalista lembra que a maioria dos pais passa pela mesma situação que Cleo, a mãe da pequena Clarissa, e que grande parte deles acaba excluindo os filhos das compras. "É mais cômodo para os responsáveis deixar os filhos em casa. Mas eles estão perdendo chance de educar os filhos, por isso sugiro que os pais aproveitem esse momento para ensinar um pouco de economia", diz. "Por exemplo, estipulem antes de ir para as compras com os filhos que eles somente podem escolher dois itens de marca. Na loja, a criança vai ter que optar ou por uma mochila e um caderno mais caro, ou por um estojo e um apontador, por exemplo. Além disso, é importante mostrar os preços e fazer a criança ter consciência que o material que ela quer é muito caro e pode ser substituído por outro mais barato e da mesma qualidade", ensina.
A jornalista ainda destaca que é preciso acabar com o mito de que crianças muito novas não são capazes de entender conceitos como valores e economia: "Não se pode criar uma ideia de que é somente com 8 anos que a pessoa vai passar a compreender custo-benefício, por exemplo. É essencial ir tratando essas questões ao longo da infância. E isso pode ser feito a partir de coisas simples, como falar pro filho que mamãe está indo trabalhar para receber dinheiro em troca, e não para ganhar dinheiro como muitas pessoas dizem, fazendo a criança pensar que isso se ganha", conclui.
Confira dicas de educação financeira para crianças:
Antes de sair para comprar o material escolar, combine com os filhos o valor que irão gastar e incentive-os a economizar em determinado item - uma mochila, por exemplo - para gastar em um estojo mais sofisticado.
Se for possível economizar dentro do valor estipulado, incentive a criança a 'usar' esse dinheiro disponível para uma pequena poupança - um cofrinho - cujo dinheiro poupado pode ser utilizado na próxima compra de material escolar.
Coloque seu filho em contato com o dinheiro; reforce que as moedas e cédulas precisam ser bem conservadas porque, quando danificadas, o governo gasta o nosso dinheiro para as repor.
Mostre que algumas moedas e cédulas valem mais que outras, mas que todas têm valor.
Na compra do material escolar, procure distinguir coisas caras das baratas; os pequenos precisam entender esse conceito.
Mostre a diferença entre querer e precisar, destacando que as necessidades básicas estão contidas no item precisar; o querer pode esperar.
Ensine a fazer escolhas - quando a criança quiser dois itens, faça-a escolher apenas um para que aprenda a eleger as suas prioridades.
Detalhe com a criança a lista do material escolar; lembre que nada que está fora da relação deve ser comprado.
Peça a colaboração dos tios e avós na educação financeira, pois eles podem colocar tudo a perder se derem presentes e dinheiro o tempo todo.
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