O Brasil vive um momento muito especial. O contexto nos é favorável visto de muitos ângulos. Parece que estamos diante de um alinhamento de conjunturas único na história de um país.
Temos um percentual elevado de pessoas em idade de trabalhar, comparativamente à população total (o chamado "bônus demográfico"), que nos beneficiará ainda por duas décadas; temos a incorporação de novos consumidores por conta de uma renda maior; os preços de nossas commodities estão em patamares históricos; a potencialidade do pré-sal é enorme; os investimentos em infraestrutura trarão grandes oportunidades para muitos; a Olimpíada, a Copa do Mundo etc.
Enfim, são vários aspectos positivos e todos com perspectiva de perdurar por algum bom tempo. Analisando sob uma perspectiva apartidária, tivemos também um alinhamento positivo e coerente no perfil dos nossos governos.
Numa primeira fase, o governo do presidente FHC estabilizou a moeda e desenhou e fortaleceu as instituições. Com isso, foram criadas as condições para o governo do presidente Lula intensificar os programas sociais e incorporar uma massa enorme de brasileiros a um novo patamar de consumo. Essa nova base de consumidores, por sua vez, trouxe novas demandas em termos de infraestrutura (aeroportos, estradas, energia etc.), e o governo da presidente Dilma, que agora se inicia, tem justamente o perfil mais executivo, necessário para este momento, e levará adiante com eficiência a extensa agenda de investimentos.
Daí a expressão coloquial que está no título deste artigo: agora, vai!
Entretanto, não nos deixemos levar pela empolgação e lembremos que é preciso adaptação a esse novo cenário. Destacarei aqui apenas duas questões: competitividade e educação que, na verdade, são interligadas.
1) Competitividade - Num país com tantas perspectivas favoráveis, e que já acumula US$ 300 bi em reservas, é claro que o interesse por parte dos investidores internacionais é muito grande e, como consequência, o câmbio se valoriza.
Podemos tomar medidas no curto prazo para atenuar o processo, mas não temos como reverter a condição de que não escaparemos de ter uma moeda valorizada. Assim foi com as economias que se destacavam no século 20, como Inglaterra, EUA, Alemanha e Japão. As moedas valorizavam, mas os países nunca deixavam de ser competitivos.
Isso reforça que precisamos nos preparar para sermos competitivos com essa moeda valorizada. Ineficiências tributárias, fiscais ou custos elevados por conta de uma infraestrutura deficiente não mais poderão ser compensados por um câmbio desvalorizado.
É hora de fazermos as reformas e construirmos um ambiente empresarial mais eficiente, à altura das nossas possibilidades.
2) Educação - Esse momento favorável precisa ser aproveitado em todo o seu potencial, e é claro que já não o estamos fazendo.
Há dados positivos e que mostram que hoje 70% dos jovens da classe C têm um nível escolar mais alto do que o familiar.
Entretanto, essa comparação positiva feita sobre uma base muito baixa esconde uma realidade bem menos aceitável. Vista sob outra ótica, há falta de mão de obra qualificada para podermos levar adiante os projetos necessários.
Muitos jovens, por conta da evasão escolar ou por conta da baixa qualidade de ensino, estarão condenados a ficar à margem desse processo de desenvolvimento que estamos vivendo. É hora de darmos prioridade total à educação nas esferas federal, estadual e municipal, com o apoio da iniciativa privada onde puder ser feito, para resgatarmos essa dívida maior que ainda temos. Só assim podemos dar oportunidade a cada brasileiro de se desenvolver na sua potencialidade, e só assim teremos construído um país mais digno.
Tudo aponta para um longo período de crescimento. Nosso principal desafio agora é pavimentar o caminho. Do contrário, teremos que prestar contas para as próximas gerações sobre como perdemos essa oportunidade única.
FABIO COLLETTI BARBOSA, 55, administrador de empresas, é presidente do Grupo Santander Brasil e da FEBRABAN. Escreve mensalmente, aos domingos, na Folha de S. Paulo.
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