sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Os fósseis do petróleo e gás americanos

por Walter Figueiredo De Simoni

Muita coisa aconteceu no mundo das mudanças climáticas desde que escrevi pela última vez, porém, infelizmente, a maior parte dos acontecimentos não é uma boa indicação para o nosso futuro. Dentre as novas bandeiras levantadas, a mais preocupante, e a mais simbólica, é a famigerada Proposição 23 na Califórnia.
Esta proposta de lei visa combater a atual lei de mudanças climáticas do estado, conhecida como AB 23, o Global Warming Solutions Act of 2006. Esta lei estabelece uma meta estadual de emissões de GEEs, visando redução para que em 2020 o estado tenha os mesmos níveis de emissões de 1990.
As justificativas dadas aos propositores da Prop 23 são “vamos perder empregos” e, logo depois,“aumento de custos de eletricidade”. As bandeiras são grandes, o barulho é alto e, quando olhamos para os financiadores deste movimento, entendemos o motivo do estardalhaço. Estima-se que cerca de 97% de todo o financiamento da campanha a favor da Prop 23, mais de US$ 25 milhões até agora, venham de empresas de petróleo, especialmente de empresas texanas . Um velho ‘vilão’ mostra as caras.
Já era esperado que o setor tenha este posicionamento. Não digo que o setor e seus produtos se tornariam obsoletos, pois o mundo ainda precisa de petróleo e seus derivados, mas posso afirmar que a longevidade do setor de petróleo e gás tradicional, dentro do atual paradigma adotado por diversas empresas, é questionada. O medo não é que leis de mudanças climáticas prejudiquem o estado e população local, e sim que prejudiquem as próprias empresas. Isso porque elas não fizeram o seu ‘dever de casa’.
Tradicionais, estagnadas e desatualizadas, estas empresas não escutaram as sirenas das mudanças climáticas e continuaram trilhando o mesmo caminho. Não mudaram. Não se adaptaram. Ao invés de tentar alcançar o novo andar da carruagem, querem que tudo pare e volte para o modelo antigo de lidar com as coisas.
Aí se encontra o problema. É tentar aplicar às mudanças climáticas os mesmo valores, estruturas e ideologias da nossa economia tradicional, especialmente no que se refere ao consumo de combustíveis fósseis. A questão das mudanças climáticas vai além de legislações e multas. Ela atinge valores, comportamento, tecnologia e estruturas setoriais de uma maneira profunda.
Outras grandes empresas de petróleo, como a Shell e a Exxon já demonstraram uma visão de longo prazo e começaram a diversificar os seus negócios. Elas não são mais empresas não são mais empresas ‘de petróleo e gás’ e sim empresas de energia, que investem em inovação, novas fontes de geração de energia, tanto elétrica quanto biocombustíveis. Investem em novas formas de consumo, como motores mais eficientes, entre outros. Estas corporações, muitas vezes, são a favor da criação de legislações de carbono, taxação de carbono, mercados de cap-and-trade e novas medidas de controle de emissões. Isso é evolução empresarial.
O conceito de que investimentos em mudanças climáticas provocarão aumento de preço e destruição de emprego é errônea. A criação de novos empregos na indústria ‘verde’, a diversificação da matriz energética nacional e a redução de riscos relacionados à segurança energética são os exemplos básicos de ganhos diretos para a economia, seja na Califórnia ou em qualquer outro lugar. Isso sem falar de ganhos mais amplos, como o próprio combate à mudança climática.
A questão é mudar o paradigma, o valor e a visão e não deixar que fogos de artifício nos ceguem para novos mercados, novos produtos e novos valores. Temos que entender que atitudes como a Prop 23 são apenas um grito desesperado de um grupo de empresas que se encontram com as calças baixas em uma nova economia.

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