terça-feira, 13 de setembro de 2011

A VIDA SEMPRE FICA MELHOR COM POUCO DE POESIA


Louvor e graças

(Marisa Bueloni)


     Os dias estão secos como a secura dos que já não têm lágrimas para chorar. (Se estiver chovendo quando este texto for publicado, mais louvarei aos céus).  Nesta aridez dos dias poeirentos, em meio à ventania dos meses seguintes a agosto, não deixo de louvar a Deus.  Olho à minha volta e vejo cenas de desolação, a poeira acumulada nas folhas das árvores, a fuligem de cana que se entoca em toda parte, o gramado do condomínio definhando e pedindo chuva.

     Esta é a época da poeira por excelência. Tempo de poucas chuvas, tempo de economizar água. Contudo, o corpo – e creio que a alma também – clama pelo piso fresco e lavado nas varandas, nos quintais, nos locais onde se pode limpar com água. Para que tudo se refresque à luz do dia. Neste pequeno refrigério, celebro a criação, a natureza em sua condição mais difícil, que é suportar a seca.

     As manhãs azuis deste setembro me fazem rezar ainda mais. Não tenho pressa, rezo com calma, medito e louvo. Dou graças quando há chuva e folhagens verdejantes; louvo ao Criador, também quando o cenário é a secura da estiagem. Os céus estão sobre nós, sobre esta humanidade que se esqueceu de Deus. O hedonismo é a religião das multidões e é preciso enterrar as leis do Senhor, antes que elas venham incomodar as consciências e estragar a festa. Não pode haver aridez maior.

     O clima seco é a causa de muitos focos de incêndio e o planeta arde em algumas regiões, enquanto outras estão debaixo d´água. São os contrastes do clima, as mudanças drásticas que começam a inquietar. A baixa umidade do ar afeta a nossa respiração, o organismo precisa ser hidratado de alguma forma e as queimadas nas cidades canavieiras deveriam ser imediatamente suspensas quando a situação é crítica.

     No campo, a contemplação da paisagem pede paciência. Sobretudo quando se trafega de carro por uma estradinha de terra e à nossa frente vai um caminhão de cana. Dá para louvar? Uma nuvem de poeira nos encobre, fazendo-nos tossir. Tenta-se ultrapassar o veículo enorme, mas pouco se enxerga com o pó à nossa volta.

     Praguejar é contra os princípios do coração que busca o louvor a todo custo, aconteça o que acontecer. Então, paciência. Minha mãe dizia que a paciência “é tudo nesta vida”.  Com a poeira, a respiração se torna difícil, melhor diminuir a marcha, ficar distante do caminhão, até que a nuvem se desfaça. E então, um turbilhão de pensamentos e raciocínios se forma na mente atordoada. O desmatamento criminoso da floresta amazônica pode interferir nas correntes climáticas, alterando o ciclo das chuvas na região sul e sudeste do país. A causa desta secura é a ação humana, é a ganância do homem que danifica e destrói. O Criador fez tudo perfeito, para que os dons da natureza sejam usufruídos com sabedoria.

     E assim, o coração se acalma e volta a louvar, a agradecer pelo que ainda existe de verde e de belo aos nossos olhos. Louvor e graças sejam dados ao Pai Criador em todo momento, pela água que ainda existe e mata a sede do planeta, pela chuva benfazeja que há de chegar, suficiente  para irrigar a terra, na bênção da sua estação. Uma alma agradecida nunca deixa de dar graças, em todo momento, para a maior glória do Criador.

     Ainda que a paisagem se deforme na opacidade turva da poeira, podemos procurar pela beleza oculta que subsiste, apesar da fúria com que o meio ambiente vem sendo depredado. Então, os oceanos parecem já não se conter nos seus limites, ameaçando invadir as cidades. Os ventos se agitam de forma assustadora. Os terremotos causam um  pânico terrível, sobretudo quando há riscos de tsunamis. E o homem se assusta com o bramido das ondas do mar. Ninguém se sente seguro, em parte alguma.

     Este tempo nos enche de presságios. É como se um aviso divino estivesse suspenso no ar. O céu nos protege de uma catástrofe anunciada, profeticamente aterradora. A mão de Deus paira sobre os quatro elementos e os domina com absoluta perfeição. À noite, as estrelas se acendem para lembrar que os luzeiros do firmamento estão a postos, as tochas dos anjos nos guiarão, aconteça o que acontecer.

     E assim, um canto ecoa pelos ares, para que se louve e se cante no topo das colinas e das montanhas, do alto dos telhados. Que toda a Terra exulte e dê glórias ao Senhor. As aves do céu cantam em louvor ao Pai que as alimenta. As cordilheiras reverberam a glória divina em toda a majestade. E um coração pequenino, que mal pode se ajoelhar, se comprime em sua miséria terrena, erguendo os braços timidamente para Deus, o Senhor dos exércitos.

     E então, ouve-se o tropel dos cavalos. O som apocalíptico das trombetas, o arfar das asas dos anjos, derramando suas taças transbordantes do incenso purificador. O comboio celeste está a caminho. A Terra se abrasa e a purificação dos elementos faz sair fumaça pelos poros das rochas. A profecia se cumpre em todo o seu esplendor. Ah, que espera maravilhosa! Nossa Senhora está dizendo nas últimas mensagens: “Tende paciência e rezai, rezai, rezai”. Que privilégio para os que testemunham este momento bíblico e histórico.

     Louvor e glórias a Vós, ó Senhor do Universo.

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