Mais de Cinco Bilhões de pessoas no planeta são consideradas “mau negócio”
por Ricardo Lontra
Se elaborássemos uma pesquisa para saber qual é a palavra mais pronunciada ultimamente, e cujo significado (mesmo junto a quem a pronuncia) permanece incerto e nebuloso, muito provavelmente chegaríamos a ela: GLOBALIZAÇÃO. O conceito de globalização - nascido fora dos meios acadêmicos – ainda é um personagem em busca de um autor.
Dois fenômenos são associados à globalização, um objetivo e outro subjetivo. O objetivo é a face mais visível, que gerou por um lado um desenvolvimento cientifico e tecnológico jamais visto e, por outro, altos índices de desemprego e sub-emprego (“fenômeno mundial”) com trágico impacto na saúde das populações. A face subjetiva pode ser percebida através dos conceitos e pressupostos ideológicos neoliberais, onde não há lugar para todos, criando assim um enorme contingente mundial de excluídos.
A palavra globalização tem sido usada de forma imprecisa e dúbia ao longo dos anos. O que vem a ser, então, esse “monstro” para uns e panacéia universal para outros? Ou ainda, de que maneira esse fenômeno intercepta nossa sociedade e qual é o seu real impacto na vida e na saúde da população?
Globalização significa pura e simplesmente integração de mercados, mais especificamente de três tipos: comercial, financeiro e produtivo.
Entre 1950 e 1973, o mundo experimentou o crescimento econômico mais rápido da história da humanidade, com baixas taxas de desemprego, progressiva redução da jornada de trabalho e aumento dos direitos sociais. A partir daí, uma sucessão de crises financeiras e econômicas nos países desenvolvidos (principalmente a crise do Sistema Monetário Internacional e a crise do petróleo, em 1974) acarretou uma drástica mudança na economia dos países:
Dizemos que o “gênio da lâmpada foi libertado”, e passou a mover-se ao sabor de seus interesses imediatos (uma metáfora bem-humorada da liberalização do capital) priorizando-se, assim, o desenvolvimento econômico em detrimento do social.
“No final da década de 80”,uma nova geração de economistas defendia a menor ingerência do Estado e a liberação da economia. O principal argumento desse grupo era que as mudanças tecnológicas levariam à erosão de obstáculos geográficos e políticos, e essa “globalização”- aí está a palavra em sua acepção primitiva – proporcionaria um crescimento muito rápido do mundo inteiro.
O que se observa, porém, é que esse processo não é produtivo. “Não há quase crescimento real de investimento internacional”. O fenômeno da globalização é, na prática, puramente financeira e improdutiva, e não um fenômeno comercial, já que o investimento direto internacional é centrado em alguns países, basicamente megamercados – o Brasil é um deles – enquanto grandes regiões do mundo não são interessantes para os investidores.
“O mais triste”, é saber que pouco mais de 01 (um) Bilhão de pessoas em todo o mundo fazem parte desse processo. Mas existem cerca de mais de 5,0 Bilhões de pessoas alijadas do progresso e do sistema, uma imensa população não financiável, considerado “mau negócio” para os investidores.
O processo de GLOBALIZAÇÃO impôs aos habitantes do planeta a perplexidade de viverem “num mundo de possibilidades máximas e felicidades mínimas”. A construção de uma “Epidemiologia da esperança”, fazendo-se valer na prática uma participação e integração da maioria desses excluídos com críticas construtivas para uma nova relação de valores entre os povos seria uma grande alternativa de se enfrentar o processo de globalização, no sentido de se chegar a uma Terra mais humana, onde o bem comum seja o principal objetivo a ser alcançado.
Secretaria de Saúde e Condições de Trabalho
Diretor responsável: Ricardo Lontra - SEEB-NF
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