Coluna
Econômica
Na sexta-feira
passada, as Organizações Globo surpreenderam o país com uma autocrítica de seu
apoio à ditadura militar.
Soou
artificial.
Um dia antes,
manifestantes jogaram merda em sua sede, em São Paulo. Nas redes sociais, com
exceção da revista Veja, não existe organização capaz de despertar tanto amor e
ódio.
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Para entender
essa demonstração de fraqueza da Globo, é preciso analisar o atual estágio da
mídia brasileira.
O mercado da
Internet está sendo disputado por três grupos: a mídia convencional, as empresas
de telefonia e as grandes redes sociais, como Google e Facebook.
Antes, mídia
vendia publicidade; telefonia vendia pulsos; redes sociais vendiam sonhos.
Agora, as redes sociais vendem publicidade, ligações telefônicas e filmes sob
demanda. Nos EUA, já dominam completamente a publicidade nacional (dos grandes
produtos) e os classificados.
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No ano passado, o Google
tornou-se o segundo faturamento em publicidade do país, atrás apenas da Globo, e
à frente da Abril e demais grupos de mídia, com R$ 2,5 bilhões. Este ano, deverá
crescer R$ 1 bi.
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Tanto grupos da velha mídia
como empresas de telefonia têm razão ao pleitear isonomia com grupos de fora –
que não pagam impostos no Brasil nem contribuições às quais são obrigadas TVs a
cabo.
Para estabelecer a isonomia,
haveria a necessidade de um novo ordenamento jurídico. O caminho seria a Lei dos
Meios – proposta há anos pelo então Secretário de Comunicações do governo
federal Franklin Martins.
No entanto, demonizou-se a
Lei dos Meios, como se fosse um instrumento para calar a mídia. Agora,
necessita-se de uma mudança legal que defina os novos marcos das comunicações. E
a Globo quedou-se só.
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Dias atrás, um interlocutor
de João Roberto Marinho – um dos herdeiros da Globo – ouviu dele manifestação de
surpresa com o ódio que a empresa desperta, o desassossego com a crise dos
aliados - seus três maiores aliados, Folha, Abril e Estadão, perdem fôlego a
cada dia que passa -, o desconforto com a competição das redes sociais.
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De fato, as empresas de
telecomunicações contam com o lobby escancarado do Ministro Paulo Bernardo.
Já a Globo enfrenta o momento
mais delicado de sua história sem dispor do antigo poder de definir as leis a
seu talante e estando cada vez mais isolada.
É por aí que se entendem as
mudanças.
Nos últimos tempos, a Globo
trocou seu lobista em Brasília – Evandro Guimarães, competente porém herdeiro
dos tempos do “eu sou o senhor do universo”- por outro, mais político. Nomeou
para cargo de direção uma executiva incumbida de começar a enxugar a estrutura
de custos para adaptar-se aos novos tempos.
Provavelmente seu noticiário
começará a se tornar menos tendencioso e poderá até a voltar a praticar
jornalismo de primeira, crítico porém plural. Ouvintes da CBN, telespectadores
do Jornal Nacional e da Globo News voltarão a saborear comentaristas
equilibrados, com bom senso, criticando, sim, mas sem prever mais o fim do mundo
e a invasão do país pelas forças de Fidel Castro.
Seja qual for a mudança,
continuará poderosa. Mas os tempos de poder absoluto não mais voltarão. Nos
próximos anos, terá que fazer algo impensável para quem se considerava um
império: sair do pedestal, legitimar-se novamente, montar redes de
aliados.
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