domingo, 1 de janeiro de 2012

OBRIGADO A TODOS OS LEITORES DESEJO MUITA SAÚDE EM 2012 E BOA LEITURA COMO ESSA A PRIMEIRA DE 2012

CAFÉ HISTÓRIA: O francês Luc Ferry, 60 anos, se tornou recentemente uma celebridade internacional. Seu livro Aprender a viver: filosofia para os novos tempos, lançado em 2006, se tornou um verdadeiro best-seller. Foram vendidos quase um milhão de exemplares no mundo, mais de 40.000 deles no Brasil. Professor, na sua opinião, esse fenômeno editorial é um fenômeno isolado ou estamos diante de um interesse popular generalizado por filosofia? E mais: a filosofia está hoje mais próxima ou mais distante do grande público do que, há quarenta anos, quando o senhor começou sua carreira?

EDUARDO JARDIM: Não estou entre os 40.000 leitores do livro no Brasil! Por este motivo, minha resposta vai ser muito genérica. Nem sei se o autor é culpado por este título que lembra mais o de um manual de autoajuda do que de um livro de filosofia. Sim, é normal que em momentos de crise e de insegurança, como os que vivemos hoje, as pessoas busquem uma orientação e recorram a alguma coisa como um arrimo, até mesmo de uma doutrina filosófica. Mas isso não tem nada a ver com filosofia. Muito mais eficientes neste sentido foram os movimentos totalitários que representaram para as massas de habitantes das cidades europeias do primeiro pós-guerra uma saída para suas frustrações. Quem busca uma solução ou quer aprender a viver não vai encontrar nada na filosofia. A filosofia não fornece respostas. Ela é exercício do pensamento, e este tem um caráter muito mais crítico do que construtivo. A filosofia não fornece um código de comportamento, não tem utilidade, sequer produz um conhecimento, como fazem as ciências. Sua força reside nisso – no fato de valer por si mesma, sem depender de nada mais. Heidegger lembrou que uma das imagens de Platão para se referir ao pensamento é a do vento, que é invisível, mas tira tudo do lugar. Por outro lado, é verdade que a vida faz muito mais sentido quando é acompanhada do pensamento. Pensar, além de poder ser a paixão de uma vida, pode intensificar todas as outras paixões.

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