sábado, 3 de agosto de 2013

Professor Oscar Halac - No Pedro II, uma gestão voltada para o ser humano -

Crédito: Daliane Castanho
Reitor eleito do tradicional Colégio Pedro II, Oscar Halac aguarda a autorização do Ministério da Educação (MEC) para assumir o cargo nos próximos meses
Nos corredores do prédio da reitoria do Colégio Pedro II, em São Cristóvão, um senhor simpático de calça jeans passa cumprimentando os funcionários ao redor. “Este é o Oscar Halac, o novo reitor”, apresenta Luiz Almério, atual diretor de Gestão e Pessoas do colégio, e futuro pró-reitor. Halac, eleito nos primeiros dias de julho, ainda aguarda a autorização do Ministério da Educação (MEC) para tomar posse do cargo, o que deve acontecer nos próximos meses.

Já na sala de reuniões, Oscar Halac mostra que ainda guarda o cavalheirismo clássico de puxar a cadeira para as damas. Porém, ao apresentar suas propostas para o Pedro II, as inovações. “Se você não permite que o novo surja, você não permite a reoxigenação do sistema. Minha equipe será formada por jovens cheios de ideias inovadoras para o Pedro II”, disse o reitor eleito.

Em conversa com a FOLHA DIRIGIDA, Halac comentou sobre a revisão do projeto pedagógico da escola, a elaboração de seu regimento interno, a equiparação do colégio à lógica de institutos federais e outros assuntos que compõem o norte que pretende dar à sua gestão. “Mais do que grandes mudanças infraestruturais, quero voltar a minha gestão ao homem: para o técnico, para o docente e para o aluno, principalmente, com uma atenção especial ao processo de ensino e aprendizagem. Minhas medidas serão pautadas em coisas básicas, que garantam o seu bem- estar.”

FOLHA DIRIGIDA - Em 2012, o Pedro II foi equiparado ao grupo dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. O senhor acredita que essa medida seja benéfica ao Colégio?
Oscar Halac - Há um viés bom nisso, sem dúvidas. Agora, o Colégio Pedro II faz parte de um grupo maior na área de educação. Politicamente falando, não seria interessante se não estivéssemos inseridos. Mas há um lado que não é muito interessante nisso. Somos uma escola de ensino básico, que começa lá na educação infantil e vai até a pós-graduação. Então, por ser uma peculiaridade do colégio em relação aos demais, uma série de projetos nossos, que fazem frente a um orçamento especial, não está previsto no bojo do interesse geral.

Com a equiparação do Pedro II à lógica dos Institutos Federais, o colégio passou a ter direito de abrir curso de graduação. O senhor pretende investir nessa área?
Há tanto trabalho a ser desenvolvido na área de educação básica e técnica, que o desenvolvimento da graduação pode ficar para um próximo reitor.

Como está a situação atual do Pedro II, e quais são seus planos de investimento?
Sou o reitor de coisas básicas. Quero guiar a minha gestão com foco no homem e em seu processo de ensino e aprendizagem. Por isso, uma das minhas medidas é a reeducação dos hábitos alimentares dos nossos alunos. Assim, ao longo do tempo, conseguimos fugir de uma estatística nefasta de crianças obesas, com problemas circulatórios, de diabetes e, acima de tudo, em suas autoestimas. A mídia vende uma imagem padrão de pessoas bem aceitas socialmente quando coerentes a esses estereótipos de pessoas elegantes e esguias e, quando à parte, o jovem se sente mal. Por isso, convidei uma nutricionista para compor a equipe da reitoria e desenvolver um projeto interno-institucional, pautado no consumo de mais farinhas integrais e menos sal e açúcar, mas que chegasse à família do aluno também. A família precisa apoiar essa iniciativa da escola. Outro ponto que devemos tratar é a revitalização das nossas bibliotecas. Não há mídia que substitua o livro publicado. O hábito da leitura, a pesquisa bibliográfica ‘in loco’, em livro, é extremamente importante na formação acadêmica. E nós, hoje, temos bibliotecas desassistidas, sem novos títulos adquiridos há anos. Já contamos com uma verba de um milhão e setecentos, em média, para voltarmos para esse fim. Essa campanha também deve se estender aos lares dos nossos alunos para começarmos a fazer frente à cultura cibernética do uso de computadores e celulares constantemente em detrimento do manusear de um livro. Nosso terceiro viés será o núcleo de atendimento a portadores de deficiência física. É fundamental que cada sala onde haja um jovem com necessidades específicas seja coberto, humanamente, com uma estrutura básica para gerar sua inserção social. A possibilidade de integração semelhante aos demais não pode ser conferida apenas no ato de fornecer uma vaga a esse estudante. Garanto que tudo isso é possível e os recursos são baratos, só que o Pedro II não os possui. Para os professores, pretendemos comprar um headset de uso pessoal. É uma forma de cuidar para que não haja desgaste de suas cordas vocais. Consequentemente, a medida melhorará a atenção e a compreensão auditiva dos alunos. Todas essas medidas serão testadas por pesquisas de satisfação. Isso será uma das incumbências de nossa Coordenadoria de Comunicação Social: saber a temperatura e a pressão de nossas clientes.

Quais as ações previstas para a qualificação de professores e funcionários?
Para os técnicos, acredito que seja preciso, antes de qualificação, um treinamento em serviço com para prepará-lo para desempenhar determinada função. Os profissionais do Pedro II trabalharão crianças e jovens, que são um público bastante especial. Deverá, inclusive, haver um destaque ao assistente de aluno, a pessoa mais próxima à qual o jovem recorre quando está com algum problema. Já para a capacitação de docentes, serão inaugurados os programas de extensão e pesquisa no Pedro II. Para isso, propusemos a fusão da pró-reitoria de extensão com a pró-reitoria de pós-graduação e pesquisa gerando, assim, a pró-reitoria de extensão, pós-graduação e pesquisa. Desta maneira, essa qualificação e capacitação terão, pelo menos, um canal mais veloz para acontecer.

Qual a avaliação do senhor para a política de cotas do Colégio Pedro II?
Acredito que a lei tentou ajudar tanto que acabou atrapalhando. A exigência de que todo o ensino fundamental seja cursado na rede pública invalida grande parte dos candidatos de participarem. De qualquer maneira, é bom deixar claro que a lei tentou ser abrangente, tentou ajudar na inserção. Mas, na prática, pelo menos quando observamos no ano passado, houve sobra de vagas, que acabaram sendo preenchidas por outros segmentos.
 
Quais são as diferenças no tratamento dado ao Pedro II no governo Lula e no governo Dilma? Quais aspectos melhoraram e quais pioraram?
Nenhuma. A ideologia dos governos se manteve a mesma. A rede foi bastante prestigiada, apesar, acreditamos, de que a política salarial dos docentes mereça ainda uma atenção maior do governo federal. Houve, sim, uma diferença de tratamento ao professor no governo Fernando Henrique Cardoso em relação aos governos subsequentes. Porém, deve-se levar em consideração que a conjuntura econômica era outra.

No início do ano, houve um protesto dos alunos pelo calor de janeiro, período de estudo devido ao calendário modificado pela greve. Há planos de climatização dos campi?
A gestão que está deixando a reitoria da escola já tratou de tudo. Creio que esse ponto esteja concluído, aparentemente.

Em 2011, as metas do Idep (feito pelo Inep), apesar de altas, não foram alcançadas. Isso gera alguma mudança e novos projetos para a escola?
Não que, necessariamente, esse decréscimo esteja localizado no processo de ensino e aprendizagem. Mas é claro que nós precisamos descobrir, todos juntos, o porquê de não ultrapassamos esse rendimento. Em primeiro plano, é preciso que a escola conheça a sua identidade e diga o que quer ser. O que não pode é você ser um pouquinho de escola tecnológica, um pouquinho de escola básica, um pouquinho de pós-graduação. Só que não adianta, agora, começarmos a apresentar propostas soltas sem que haja um documento normativo escrito, que é o Regimento Interno, para embasá-las em cima da lógica e das necessidades próprias do Pedro II. Depois, ainda será confeccionado um documento intra legal a ele, que é o PPP (projeto de política pedagógico). Tudo isso levará um certo tempo. Em educação, nada é rápido. Não se trata de uma fábrica de fazer criança, trabalhamos com seres humanos.

Qual a relevância elaboração do Regimento Interno do Pedro II para o funcionamento do escola? Como será esse procedimento?
O Regimento tem como fim detalhar o estatuto do Pedro II. Em alguns momentos, durante a sua confecção, o Estatuto será reportado, verificando, até, a necessidade de alterá-lo. Isso é possível; basta que seja levada uma proposta formal ao conselho superior. Porém, acima de tudo, há uma relevância formal na elaboração de um Regimento. É preciso ter, não se trata de uma opção. Para isso, é fundamental que sua composição seja de representação mais ampla possível, para que seja considerado e assumido por todos que integram o colégio. Só assim ele poderá nortear outros documentos intra legais e realizar sua ação estruturante.

O que precisa ser revisto no projeto pedagógico do colégio? Quais serão as modificações feitas?
O projeto pedagógico do Pedro II está defasado diante das práticas mais recentes desenvolvidas no colégio. Assim como boa parte das práticas que constam nele não existem mais. Não consta os cursos do Proeja, nem um capítulo que trate do ensino médio integrado, por exemplo. Só temos uma estrutura organizacional combinada porque, na verdade, no documento não consta. O PPP, então, será um documento similar a uma pesquisa, como uma acadêmica, de bancada, para se encontrar a nova realidade do colégio. E como uma boa pesquisa de qualidade, é sempre fundamental alimentar esse processo com novas informações.

Nenhum comentário: