Do blog de Hildegard Angel
CASAMENTO DE BEATRIZ BARATA: NOSSO 14 DE JULHO, NOSSA BASTILHA CARIOCA!
Beatriz Barata, o lindo vestido, a noiva em total controle da situação
Foto Luiz Roberto Lima, colaborador da Mídia Ninja,
via Google
Tendo o
ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e sra., como padrinhos, e como convidados os colecionadores de arte
Sergio e Hecilda Fadel, que recentemente receberam a
presidenta Dilma Rousseff para jantar em casa, no Rio, e cuja filha é casada com o filho do
ministro Edison Lobão, das Minas e Energia, além do colunista social de Fortaleza,
Lalá Medeiros, casaram-se ontem, com festa que varou madrugada, no Copacabana Palace,
Beatriz Barata, neta do maior empresário de ônibus do Rio de Janeiro,
Jacob Barata, e
Francisco Feitosa Filho, cujo pai é o dono da maior empresa do ramo no Ceará.
Acompanhar, via mídias sociais e MSMs recebidos, o protesto indignado contra este casamento diante da
Igreja N. Sra. do Monte do Carmo e da festa no
Copacabana Palace, me fez sentir clima de
Revolução Francesa, correndo um frio na espinha, um presságio ruim. E me veio à mente a
princesa de Lamballe, melhor amiga de Maria Antonieta, com a cabeça espetada na ponta de uma lança, pela multidão que invadiu as
Tulherias.
Estávamos numa madrugada de 14 de Julho, mesma data da Revolução
Francesa, e toda aquela manifestação, que ontem começou alegre, até
divertida, berrando bordões bem humorados, outros de gosto duvidoso,
teve consequências desastrosas, com cabeça ensanguentada, decisões
equivocadas, batalhão de choque, bombas de gás lacrimogênio, balas de
borracha e gás de pimenta, às 3,30h, 4h da manhã, diante de nosso
Palácio de Versailles, emblema máximo do luxo, da riqueza e da
sofisticação do país: o
Hotel Copacabana Palace!
Vou contar como foi, tal e qual… Aquietem-se, concentrem-se e me escutem…
Com gritaria na calçada, o protesto diante da igreja causou tensão
nos convidados, perturbou todo o tempo o ofício do padre e a noiva,
Beatriz, em vez de cortejo de daminhas e pajens, precisou de cordão de
isolamento para entrar na igreja.
Enquanto padre Alexandre fazia a homilia, escutava-se nitidamente os
manifestantes em coro dizerem coisas como “ha,ha, ha, o noivo vai
broxar”, “também quero meu Louboutin”, “úúú, todo mundo pra Bangu” e
tambores, buzinas e panelas, pó-pó-pó-pó-pó, pó-po-ro-po-pó, fon-fon-fon
etc. O cerimonial de moças e rapazes impecáveis, pra lá e pra cá,
cochichando baixinho, apreensivos sobre como solucionariam a saída dos
noivos. Foi com PM e seguranças.
Beatriz, calada e retraída, permaneceu tensa todo o tempo – pudera! – mas manteve o controle. Foi altiva.
Já na recepção, no Copacabana Palace, todos se descontraíram e
puderam se divertir, porque no interior do hotel não se percebia o que
se passava lá fora, à exceção daqueles nas mesas da varanda.
No calçadão da Atlântica, uma garotada bonitinha da Zona Sul fazia
manifestação até divertida, à la carioca, com meninas vestidas de noiva,
rapazes alguns de terno e gravata, sacando bordões inspirados como “Eu
também quero meu Louis Vuitton”, “Cadê minha Chanel?”, “Nesse hotel tem
Barata!”, “Eu também paguei essa festa, quero meu bem-casado” e aquele
clássico chulo da noite, citado acima, que se referia ao noivo…
E dá-lhe buzina, bateção de panela, de tabuleiro de alumínio, e
desacatos para as mulheres (lindas!), que entravam ou saíam decotadas,
cobertas de bordados: “piraaaaaanha!”. Não poupavam ninguém.
Com todas as quatro entradas do hotel bloqueadas por eles, ninguém
entrava, ninguém saía, pela internet, os seguidores que assistiam à
transmissão do canal “Mídia Ninja” postavam comentários mais pesados, do
tipo “CABRAL VAI É DORMIR AÍ !!!!” (detalhe: Cabral sequer figurava na
lista de convidados da festa!); “cadê as bombas???chama pa nois estraga a
festa!”; “BA-FO-ME-TRO NO HOTEL”; “Rico não tem Lei Seca?”
(referindo-se aos que embarcavam em seus carros mesmo aparentando ter
bebido, quando ainda se podia sair); “chocada com o valor dos presentes
que a Baratinha pediu no casamento. Veja a lista:
http://migre.me/fsCZL”
(localizaram a lista no site da H. Stern); “Candidato da Baratinha é
Marcelo Freixo do PSOL” (foram checar no Face de Beatriz e descobriram);
“ISSO.. TEM QUE JOGAR OVO MESMO…” (zangados porque a repórter foi
maltratada por um policial à porta); “Todos RATOS engravatados, saindo
pelos fundos constrangimento é a única arma do povo!!” (houve uma hora
em que os convidados conseguiram sair pela porta da Av. Copacabana);
“deixem suas mensagens de parabéns ao noivo”.
Vou omitir palavrões, baixarias e violências. Se é que já não transcrevi demais disso.
A horas tantas, chegou ao hotel a diretora-geral, Andréa Natal, que
por força do cargo mora no Copa. Entrou pela porta lateral da Pérgola,
junto ao Edifício Chopin. Aflita, vendo aquela multidão e a gritaria,
parou para discutir com os manifestantes, iniciando rápido, bate-boca,
logo sustado pelos seguranças, que a transportaram para dentro.
No interior do hotel mais lindo do Brasil, tudo eram maravilhas. No
Golden Room, a apoteose do deslumbramento. O decorador Antonio Neves da
Rocha plantou no meio do salão uma árvore frondosa, com os galhos
alastrando-se por toda a área do teto, de onde pendiam fios com
lampadário e buquês de flores. O chão coberto com grama. E a iluminação
causava a sensação de se estar numa floresta-lounge, com estofados
pretos.
Ali foi o show de Latino, que para entrar só conseguiu pela porta de
serviço da Rodolfo Dantas, a da cozinha, driblando os manifestantes.
Depois do bundalelê do Latino, houve ali a dança, com o DJ Papagaio e
sandálias Havaiana vermelhas para todos os 1050 convidados que
compareceram. Foram expedidos 1200 convites. Havia lugares sentados para
todos, absolutamente todos.
No Salão Nobre, aquele comprido que sucede ao Golden Room, Neves da
Rocha cobriu toda a parede de janelões que dá pra piscina com imenso
painel único de Debret (ou seria Rugendas?) com
super-mega-imensa-paisagem do Rio de Janeiro, abrangendo nossas
montanhas, o mar, a Baía, florestas, do teto ao chão, criando visão
fantástica.
Completavam o ambiente lustres enormes cobertos com heras, toalhas de damasco verde musgo cobriam as mesas até o piso.
O mesmo décor de toalhas musgo de damasco se repetia nos salões da
frente e nas duas varandas, que foram cobertas e fechadas com paredes de
muro inglês, com heras, e os mesmos lustres espetaculares. Cadeiras de
medalhão suntuosas. Muito bonito.
Entre os três salões da frente, o do meio foi destinado a ser apenas o
Salão dos Doces, com bem-casados da Elvira Bona, doces de Christiana
Guinle, chocolates de Fabiana D’Angelo. Chá, café, brownies. O Céu, a
Terra e o Mar também…
O champagne era Veuve Clicquot. Uísque Black Label. Aqueles coquetéis
de sempre, Bellini, Marguerita etc. Vários bares de caipirinha, saquê
etc. O bolo de Regina Rodrigues era um acontecimento, com vários
andares, todo branco.
Buffet do Copacabana Palace, muito bem servido e elogiado. Na
verdade, eram vários buffets, distribuídos por todos os salões e
varandas. Mesas de frios. Pratos quentes. O cerimonial foi de Ricardo
Stambowsky. As fotos, de Ribinhas.
Flores de Raimundo Basílio. Não houve exagero de flores, o verde deu o
tom. Uma decoração em que prevaleceram o equilíbrio e a elegância. Luxo
sem excessos.
Todo esse décor serviu de cenário à mais fantástica coleção de
vestidos jamais reunida numa festa no Rio de Janeiro. Esta a opinião que
ouvi de vários que lá estiveram, quer como convidados, quer prestando
serviço ao evento. Um especialista em moda, que pediu para não ser
identificado, falou: “Nunca vi tantos vestidos deslumbrantes como nessa
festa. E de gente que ninguém conhece”. Acredita-se que a grande maioria
das mulheres com essas roupas sensacionais, vestidos de alta costura,
grandes marcas, fosse de convidadas do Ceará, que ocuparam vários
apartamentos no hotel. O Copa bombou na festa e na ocupação.
Não apenas os vestidos eram extraordinários. As joias eram também
fantásticas. A começar pelas da noiva, usando riviera de brilhantes
fantástica no pescoço, dois enormes brilhantes nas orelhas e uma
coroinha de ouro e grandes brilhantes, na cabeça, sempre usada pelas
noivas da família. O vestido de Beatriz Barata foi obra da estilista
Stela Fischer.
Tudo isso foi coordenado pela avó, Glória Barata, que durante a festa
várias vezes se lembrou do filho assassinado naquela época da onda de
sequestros no Rio de Janeiro. A família pagou o resgate, mesmo assim o
jovem não foi poupado. Ela ainda guarda um grande sofrimento. Dona
Glória é uma mulher sofrida e amável. Todos os que trabalham com ela e
sua família a estimam.
Enquanto o minueto social seguia harmonioso, farfalhante e
cintilante, entre as mesas de toalhas verde musgo adamascadas dos
salões, no entorno do hotel, a contradança era outra.
Não têm pão? Comam bem-casados! Da varanda,
convidados rebatiam as provocações verbais atirando bem-casados na
“plebe” (bem à la Maria Antonieta, que ofereceu bolinhos, lembram?) e
remetiam aviõezinhos de notas de R$ 20 (aí, a inspiração já era mais
próxima, à la Silvio Santos).
Num crescendo dos protestos, bate panelas, mensagens de Face e
Twitter, imagens postadas, provocações, bordões, os ânimos foram se
acirrando e não houve nada que se tentasse para apaziguá-los. Ao
contrário.
Na portaria do hotel da Av. Copacabana, o motorista de um dos
convidados arrancou o celular da repórter “Ninja”, que, como Ninja, deu
um salto e conseguiu recuperá-lo, botando o elemento pra correr. Ela
recorreu a um policial, que a tratou com impertinência, parecendo
alcoolizado. Tudo isso registrado pela câmera Ninja. E a rede social
participando, reagindo, se indignando.
Em seguida, correm todos para a Atlântica, prosseguem a gritaria. Uma
convidada insiste em deixar o hotel, é impedida e inicia uma briga,
quando um convidado, lá da varanda, atira um cinzeiro de vidro na cabeça
de um manifestante, que se fere muito.
Vendo aquela imagem ensanguentada na tela da internet, a galera
começa a postar desacatos enfurecidamente. A repórter corre para buscar
socorro na ambulância de plantão diante do hotel (é lei quando se trata
de evento com mais de 600) e o paramédico. Mas o médico não está, “foi
lá dentro”. O rapaz machucado tenta entrar no hotel para ser socorrido.
Os seguranças e porteiros impedem sua entrada. Está aí cometido o grande
erro da noite!
O Copa, neste momento, rompe sua tradição histórica de cordialidade
com a população carioca e de diplomacia e assume uma postura hostil.
A multidão na rua se enfurece. A multidão virtual também e passa a
convocar o envio geral de comentários negativos à página do hotel na
internet. Uma guerra aberta contra o maior tesouro da hotelaria
brasileira! Eu, confesso, quase choro. Adoro o Copa. O Copa é o Rio,
nossa memória, nossa História.
Mais uns 10, 15 minutos, e chega ao local uma advogada dizendo-se da
OAB, localiza uma testemunha da agressão, consegue recolher a “arma do
crime”, fragmentos do cinzeiro que atingiu o rapaz, leva os dois para a
delegacia, onde faz o registro da ocorrência: “tentativa de homicídio”. A
vítima leva seis pontos na cabeça.